sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O santo Sundário.


O fascinante mistério do santo sudário
O lençol mortuário que envolveu o corpo de Jesus é o verdadeiro símbolo da Paixão e da Ressurreição de Cristo ou a maior fraude da história da cristandade? A polêmica parece não ter hora para acabar...



Uma peça de puro linho, com exatos 4,36 m de comprimento, 1,10 m de largura e delicados 0,34 mm de espessura, tornou-se, ao longo dos séculos, a maior relíquia do catolicismo. E também o maior enigma da história da cristandade. O tecido surrado, estreito e comprido, com manchas envelhecidas de sangue, queimado em algumas áreas, traz estampada em suas fibras a tênue figura de um homem barbudo e despido de, aproximadamente, 1,81 m de altura.
Em toda a extensão da imagem impressa no pano, é possível ver as marcas de ferimentos produzidos por chicotes, lanças e espinhos. A flagelação sofrida por quem deixou impressa sua imagem foi tão brutal que, por si só, teria matado uma pessoa mais frágil. Não matou, mas abreviou sua permanência na cruz, acreditam cientistas de várias áreas que há mais de um século estudam o lençol mortuário.
Para os fiéis, não há dúvida: o pano realmente é o Sudário que envolveu o corpo de Cristo e foi enterrado com ele, depois deixado na tumba quando de sua ascensão aos céus. Para os que não creem, tudo não passa de uma fraude fabricada na Idade Média. No período feudal, o descobrimento de relíquias era uma das atividades mais vantajosas para a Igreja Católica que assim aumentava seu domínio sobre a grande massa de devotos da Europa que, em sua maioria, era constituída por servos analfabetos e supersticiosos.
FRAUDE MEDIEVAL
O primeiro relato a respeito do Sudário aparece no Evangelho de São Marcos. De acordo com o texto, um homem chamado José de Arimateia desceu Jesus da cruz e o enrolou no lençol de linho, depois o colocou em um sepulcro aberto na rocha. Depois da ressurreição, o lençol desapareceu dos textos bíblicos, até que, no século 14, foi finalmente encontrado, segundo a versão de um cruzado que chegou da Terra Santa.
Entretanto, sua autenticidade sempre foi questionada. Já em 1389, o bispo francês Pierre d'Arcis enviou uma carta ao papa Urbano VI, na qual denuncia que o linho foi pintado à pena. Entretanto, para o químico Alan Adler, professor da Universidade Estadual do Oeste de Connecticut, nos Estados Unidos, é impossível que um pintor tenha conseguido tal proeza. Isso porque o tecido tem várias camadas de fibras e apenas a mais superficial delas apresenta outra tonalidade, criando o desenho. De acordo com o pesquisador, o mais habilidoso dos artistas, com traços levíssimos, tingiria, no mínimo, duas camadas de fibras, devido à pressão das mãos.
Em 1898, porém, a imagem voltou a levantar polêmica. O advogado e fotógrafo italiano Secondo Pia, com sua imensa máquina fotográfica, quis registrar o casamento da filha do duque de Saboia, em Turim e aproveitar a ocasião para tirar uma fotografia da relíquia da família: um imenso lençol que, de acordo com a tradição, teria sido o lençol mortuário de Cristo.
Reprodução
UMA PEÇA DE LINHO QUE MOSTRA A IMAGEM DE UM HOMEM QUE SOFREU TRAUMATISMOS FÍSICOS TERRÍVEIS, DE MANEIRA CONSISTENTE, COM A CRUCIFICAÇÃO
SEM EXPLICAÇÕES
Ao revelar o filme, o fotógrafo se assustou com a imagem que surgia espantosamente nítida no negativo, enquanto que, no pano, mostrava-se embaçada. O episódio não esclareceu o mistério, mas, por um bom tempo, reacendeu a discussão entre os crentes e os incrédulos. Apesar de toda a especulação, o Santo Sudário continuou guardado na Catedral de Turim, longe dos olhos dos fiéis.
Entre 1978 e 1981, um grupo internacional de cientistas do mais alto nível se reuniu em torno do Projeto de Pesquisa do Sudário de Turim. Trabalharam quase 150 mil horas no tecido tirando radiografias, fazendo testes com raios X com fluorescência, espectroscopia, infravermelho e retirada de amostras com fita. Os pesquisadores concluíram que a imagem não é uma representação, mas uma figura misteriosamente produzida pelo corpo que o Sudário envolveu.
A reprodução apresenta uma grande quantidade de feridas, com uma precisão de detalhes simplesmente espantosa. Até os halos formados em torno das manchas de sangue, devido à separação entre as hemácias e o plasma, podem ser vistos. Segundo os cientistas, o corpo exibe sinais de morte e rigidez, mas nenhum indício de decomposição. Essa informação foi interpretada por muitos como uma das provas da ressurreição.
Em 1988, a Santa Sé, por fim, permitiu que cientistas da Universidade de Oxford, Inglaterra, do Instituto Politécnico de Zurique, Suíça, e da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, submetessem a peça aos testes de Carbono 14 - técnica utilizada para medir a idade de materiais antigos. A conclusão foi que o tecido de linho teria sido fabricado entre 1260 e 1390. O manto, então, seria uma fraude produzida na Idade Média para estimular a fé dos católicos.
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À PROVA DE FOGO
Apesar dos testes do Carbono 14 serem considerados precisos, alguns pesquisadores contestaram os resultados por acreditarem que, ao longo dos séculos, vários fatores poderiam ter interferido no resultado adulterando a datação. Uma das interferências seriam as altas temperaturas, as quais o Santo Sudário foi submetido ao longo da sua existência. Em 1532, as labaredas de um incêndio na Catedral de Chambery, onde se encontrava o Santo Sudário na época, deixaram marcas no pano. Antes, em 1503, a mortalha teria sido fervida em óleo quente para comprovar a autenticidade. Segundo as autoridades eclesiásticas da época, se a imagem permanecesse no pano, mesmo depois do banho de óleo fervente, isso significava que a figura era realmente santa.
Para os físicos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, no entanto, as duras provas de fogo a que foi submetido seriam suficientes para alterar a precisão do teste do Carbono 14. O cientista russo Dmitri Kuznetsov, prêmio Lênin de Ciência, reproduziu em laboratório a mesma condição a que foi submetido o pano de linho e sua conclusão foi a mesma de seus colegas de Harvard.
Em 1503, a mortalha teria sido fervida em óleo para comprovar a autenticidade: se a figura permanecesse no pano, significava realmente que era "santa"
O microbiologista Leôncio Garza Valdes, médico e professor da Universidade do Texas, também contestou a datação. Ao analisar amostras do Sudário cortadas na mesma ocasião do teste de carbono, Valdes descobriu uma espécie de revestimento bioplástico produzido pela bactéria Lichenothelia Varnish sobre os fios de linho. Segundo o microbiologista , as bactérias no Sudário podem ter deturpado a precisão do Carbono 14. O cientista Harry Gove, principal responsável pela análise de carbono, posteriormente admitiu que a contaminação de restos de bactérias podia ter falseado os resultados do teste.

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